"A respeito da Protecção da Natureza escrevemos, num trabalho apresentado ao 1º Congresso Nacional das Ciências Naturais, o seguinte:
“As Câmaras Municipais deveriam em vez de fazer a criação de jardins dispendiosos, em muitos casos, mandar reservar pequenas extensões de tratos de terreno bem situados, em que a vegetação natural se pudesse desenvolver, tendo apenas o cuidado de tornar os caminhos de acesso mais praticáveis. Em determinadas circunstâncias, as formações provávelmente secundárias, que assim fôssem surgindo, teriam ainda, depois dum estudo geobotânico cuidado, de ser submetidas a tratamentos especiais, para que a associação de plantas, que as constituam, seja o mais possível representativa duma flora que se aproxime da climax local, embora com a intervenão do homem, evitando-se que algumas espécies tomem grande preponderância em relação a outras que naturalmente existiriam nas condições primitivas, anteriormente às devastações praticadas.
Existem, em vários concelhos, terrenos revestidos de mato que bem escolhidos para êste fim, evitando-se o corte de mato ou a pastorícia na área considerada suficiente para o pequeno parque natural do Município”.
Esta indicação que demos e é fácil de realização em muitos casos, para Lisboa torna-se difícil, por quási não existirem terrenos nas condições referidas.
[...]
A par dos diversos jardins onde predominam as plantas exóticas, algumas de incontestável beleza e que tornam os recintos ajardinados extremamente agradáveis, um ou mais jardins regionais poderiam constituir mais um motivo de atractivo, de cunho particular.
Quantas lindas e variadas plantas, muitas das quais ainda se encontram nos arredores da cidade, deveriam figurar nesse ou nesses jardins.
E no último caso, se fôssem vários os jardins dêste género a criar, diferenças nítidas se lhe poderiam imprimir, dada a grande área da cidade e as diversas condições de solo em que esta está assente e até as diferentes exposições nela se encontram.
As árvores, os arbustos, os subarbustos, as ervas vivazes e até algumas anuais da região forneceriam um vastíssimo material para a escôlha e combinação de aspectos que deveriam, quanto possível, se aproximar dos naturais.
[...] Aí não haveria exotismos e todos os que por lá aparecessem deveriam ser inexoràvelmente expulsos. Tôdas as plantas comopolitas, ruderais e subespontâneas teriam que ser supremidas para não conspurcarem o conjunto da flora regional.
[...]
Dado o facto de consistirem de plantas perfeitamente adaptadas, por serem próprias do meio, estes jardins serão certamente muito mais económicos do que os existentes.
[...]
O baixo custo de manutenção de jardins da natureza a que nos referimos, permitirá aumentar fàcilmente a área de recintos ajardinados em Lisboa, o que é de grande importância para o futuro da população citadina, que actualmente não dispõe em número, extensão e disseminação em locais fàcilmente acessíveis, dos jardins que reputamos indispensáveis para a sua saúde e bem estar. [...]" Prof. João de Carvalho e Vasconcelos, 1943.
0 comentários:
Enviar um comentário