Cada ser vivo necessita de uma quantidade mínima de espaço natural produtivo para sobreviver. Os humanos, neste e noutros aspectos, são semelhantes às outras espécies. Na verdade, a nossa sobrevivência depende da existência de alimentos, de uma fonte constante de energia, da capacidade de os vários resíduos que produzimos serem absorvidos e, assim, deixarem de constituir uma ameaça, bem como da disponibilidade de matérias-primas para os processos produtivos. Contudo, o consumo tem aumentado significativamente, bem como a população mundial, pelo que o espaço físico terreste pode não ser suficiente para nos sustentar. Para assegurar a existência das condições favoráveis à vida que ainda hoje existem teremos que viver de acordo com a capacidade de carga do planeta, ou seja, de acordo com o que a Terra pode fornecer e não com o que gostaríamos que fornecesse...
Avaliar até que ponto o nosso impacto já ultrapassou o limite é, portanto, essencial, pois só assim somos capazes avaliar se vivemos de forma sustentável. Isto não significa, claro, que se possa consumir e gastar mais ainda há capacidade disponível: pelo contrário, se queremos deixar espaço para as outras espécies e para os habitantes futuros, há que lhes reservar o máximo de espaço. Em todo o caso a taxa de consumo de “capital natural” já é superior à sua taxa de reposição, pelo que não há qualquer desculpa para continuar com práticas agressivas do ambiente.
E foi assim que nasceu o conceito de “Pegada Ecológica”. Criada por William Rees e Mathis Wackernagel (que se basearam no conceito de “capacidade de carga” e noutros como o “emergy” e o “MIPS”), a Pegada Ecológica permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o nosso estilo de vida. Foram escolhidas várias categorias de terrenos (agrícola, pastagens, oceanos, floresta, energia fóssil e construídos) e de consumo (alimentação, habitação, energia, bens de consumo, transportes, etc.). Cada categoria de consumo – que pode ser mais ou menos desagregada – é convertida numa área de terreno (em princípio de uma das categorias apresentadas) por meio de factores calculados para o efeito. No caso da alimentação, por exemplo, o cálculo é simples: basta dividir o consumo de dada cultura agrícola (expresso em toneladas, por exemplo) pela produtividade da terra (expressa em toneladas por hectare). É ainda necessário ter em conta as importações e exportações desse mesmo produto ou de produtos que o utilizem. A estimativa da Pegada Ecológica do queijo, por exemplo, é obtida convertendo a produção de queijo em equivalentes de leite (em média, 10 L de leite são necessários para 1 kg de queijo). Note-se que as diversas áreas obtidas não representam os verdadeiros usos do solo, mas antes os usos teóricos resultantes do cálculo da pegada.
Somando as várias pegadas parcelares obtemos um valor global que representa uma área produtiva capaz de repor, pelo menos em teoria, o capital natural por nós consumido. Esta área pode ser comparada com o espaço efectivamente existente (chamado “biocapacidade”), concluindo-se assim da sustentabilidade do sistema.
Contudo, visto que há ainda vários impactos que não estão contabilizados na Pegada Ecológica, o valor obtido é uma estimativa por defeito. Os cálculos têm vindo a ser aprefeiçoados... mas a complexidade da aritmética também! Saliente-se ainda a incerteza inerente aos cálculos que, baseando-se em inúmeras assunções, se podem tornar pouco rigorosos ou mesmo enganadores (o Brasil, por exemplo, tem uma Pegada Ecológica ligeiramente superior à sua biocapacidade, mas todos sabemos como a destruição da Amazónia alastra e é irreversível, ou seja, insustentável). Compreender as limitações de um indicador agregado como a Pegada Ecológica torna-se fundamental por forma a evitar conclusões precipitadas. Esta informação deve ser complementada com outros dados específicos e indicadores mais reprodutíveis e fiáveis.
Ainda assim, e sobretudo devido à mensagem simples e facilmente perceptível que a pegada transmite, esta tem um potencial muito elevado ao nível da sensibilização e educação ambiental. O cálculo da Pegada Ecológica faz hoje parte de uma grande campanha da organização canadiana “Redefining Progress” e dos famosos “Living Planet Reports” da WWF. Assinalem-se ainda as dezenas de cálculos da Pegada Ecológica de municípios um pouco por todo o mundo e de 50 países. Para assinalar o Dia da Terra (22 de Abril) foi desenvolvida uma calculadora que permite, através da resposta a diversas perguntas, calcular a pegada individual.
Texto retirado do site http://www.esb.ucp.pt/gea/myfiles/pegada/pegada.htm
Para calculares a tua Pegada Ecológica vai a http://www.myfootprint.org/ ou clica na hiperligação na coluna à direita