Uma visão restrita da agricultura natural diz que é bom que o agricultor forneça matérias orgânicas ao solo, que é bom criar gado, que a melhor maneira e a mais eficaz é utilizar a Natureza assim. Em termos de prática pessoal, está correcto, mas o espírito da verdadeira agricultura natural não pode manter-se vivo com esta única via. Este tipo de agricultura natural restrita é análoga à escola de esgrima conhecida como a escola de um só golpe de espada, que procura a vitória através da aplicação hábil mas consciente de uma técnica. A agricultura industrial moderna segue a escola dos dois golpes, que acredita que se pode alcançar a vitória levando a cabo um assalto furioso de golpes de espada.
A agricultura selvagem pura, por contraste, é a escola do sem-golpe. Ela não se dirige para lado nenhum e não busca a vitória. Pôr em prática o “não-agir” é a única coisa que o agricultor deve esforçar-se por realizar. Lao-Tsé falava da Natureza não-activa, e penso que se tivesse sido agricultor decerto teria praticado a agricultura selvagem. Creio que o caminho de Gandhi, um método sem método, agindo num estado de espírito que não procura nem ganhar nem opor-se, é aparentado à agricultura selvagem. Quando compreendermos que perdemos alegria e felicidade no afã de as possuirmos, realizaremos o essencial da agricultura selvagem. O objectivo final da agricultura não é fazer crescer as colheitas, mas sim o cultivo e a realização dos seres humanos.” (Fukuoka, in “A Revolução de Uma Palha”, 2001)
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